Hipnose e ciência podem caminhar juntas? Esse é um questionamento feito por muitos que têm contato, pela primeira vez, com a hipnose como forma de tratamento. A técnica ainda carrega em sua imagem algo um pouco misterioso e que pode não ser compreendido por parte da população
Contudo, é importante conhecer que cientificamente a hipnose é aceita. Já quanto ao uso dela para tratar ou auxiliar no tratamento de doenças, a técnica também foi avaliada pelo Conselho Federal de Medicina. Este, por sua vez, aceitou a indicação médica de sessões e hipnose como auxiliares de tratamentos de várias doenças ou de diagnóstico.
Conheça um pouco sobre a ligação entre hipnose e ciência e veja como ela pode ser usada para ajudar a alcançar a cura.
Estudos que determinam a relação entre hipnose e ciência.
A relação entre hipnose e ciência não é de hoje. Já em 1037 D.C o médico e filósofo árabe Avicena, muito conceituado na área da saúde, citou em uma de suas obras a diferença entre o transe hipnótico e o sono normal. Como os seus livros foram considerados como “bíblias” da medicina por mais de 600 anos, ele ajudou a difundir a existência e a importância da técnica.
Outro fato importante ocorreu já em 1840, quando James Esdaile, um médico escocês, realizou várias cirurgias sem usar nenhum anestésico. Ele apenas aplicou a técnica de hipnose em seus procedimentos.
Na mesma época, o médico psiquiatra e cientista francês Jean-Martin Charcot passou a usar a hipnose no tratamento da histeria e obteve a cura. Isso fez com que se tornasse um estudioso na área.
Caso Anna O.
Ainda na ligação entre hipnose é ciência é importante citar a publicação feita por Josef Breuer e Freud, no ano de 1885, intitulada “Estudo sobre a histeria”. Nela, eles falavam sobre o caso Anna O., uma moça de 21 anos, que havia sido diagnosticada com um quadro de histeria.
Anna, que havia dedicado a vida para cuidar do pai, começou a apresentar diversos sintomas depois da morte dele. Dentre eles, distúrbio de fala, de visão e audição. Com o tempo, passou a ter dificuldade em se alimentar, além de ter lapsos de consciência e alucinações.
Breuer instituiu um protocolo de tratamento, que parecia ter dado certo. Depois de acreditar que Anna caminhava para a cura, ela teve uma grande crise e ele foi chamado para atendê-la.
A paciente estava extremamente agitada e com fortes dores, como se estivesse em trabalho de parto. Foi então que ele usou o transe hipnótico para acalmá-la e fez com que a mente da paciente imaginasse algo mais tranquilo. Com o procedimento, ela saiu da crise.
Embora Beuer não quisesse publicar esse relato em nenhum lugar, Freud, intrigado com o que aconteceu e com a relação do poder das lembranças para tratar o caso, conseguiu convencê-lo. Os dois então escreveram o artigo “Comunicação Preliminar”, em 1893, e citaram a hipnose como parte importante do controle das crises da paciente. Mais detalhes vieram em 1895. com os “Estudos sobre a Histeria”.
Estudos atuais que ligam hipnose e ciência
Embora o fascínio científico pela hipnose seja antigo, novos estudos são feitos. Vários deles descobriram que a técnica pode ser muito útil na área médica. Um deles aconteceu 199, e foi realizado por Henry Szechtman e colegas, da Universidade McMaster, em Ontário.
Henry queria provocar alucinações auditivas e ver como o cérebro respondia. Para isso, selecionou oito pessoas, que foram submetidas a alucinação imaginária auditiva, enquanto tinham a atividade cerebral monitorada. Eles notaram que quando as pessoas tinham alucinação, o cérebro registra o ocorrido como algo real.
Os especialistas concluíram que isso acontecia porque o córtex cingulado, uma região do cérebro, era ativado tanto quando acontecia o barulho real, quanto quando a pessoa estava hipnotizada e era submetida à alucinação.
A mesma região não era ativada quando o indivíduo testado apenas imaginava o som. Com isso, concluíram que a técnica de hipnose era capaz de fazer com que o organismo gravasse as sensações provocadas como reais.
Os médicos e a hipnose
Pouco a pouco, com tantas pesquisas que relacionaram hipnose e ciência, a técnica passou a ser aceita como forma de tratamento de diversa doenças. Em 1996, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA reconheceu a hipnose como eficaz para aliviar a dor em doenças crônicas. Isso fez com que, pouco a pouco, vários médicos passaram a prescrever a técnica como parte do tratamento.
Hoje, a Sociedade de Hipnose Médica de São Paulo, entende que hipnose é: “Estado de estreitamento de consciência provocado artificialmente, parecido com o sono, mas que dele se distingue fisiologicamente pelo aparecimento de uma série de fenômenos espontâneos ou decorrentes de estímulos verbais ou de outra natureza”.
Além disso, após a análise dos efeitos da técnica feita pelo Conselho Federal de Medicina, ela foi regulamentada, através do parecer publicado em 18 de agosto de 1999, CFM nº 42/1999. No documento, a hipnose é reconhecida como técnica que pode ser usada tanto para terapia, quanto para ajudar no diagnóstico. Porém, é ressaltado que só deve ser realizada por pessoa capacitada.
O documento, que analisou a relação entre hipnose e ciência e os benefícios conquistados, também liberou o uso da hipnose por médicos, odontólogos e psicólogos, desde que seja realizada apenas como terapia e que tanto o paciente quanto o responsável legal, quando for o caso, tenham conhecimento de tudo o que será feito. O parecer, que foi aprovado, sugere ainda o uso do “termo hipniatria para definir o procedimento ou ato médico que utiliza a hipnose no conjunto terapêutico”.
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